quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Os rumos do "poder jovem" no Oriente Médio e África

São interessantes os dados que publica Renato Rovai em seu bloghttp://www.revistaforum.com.br/blog/2011/02/21/direto-do-egito-a-juventude-e-o-segredo-da-primavera-islamica/, sobre o que chama de "Primavera Islâmica".
Segundo seus relatos, direto do front, na "Líbia e no Bahrein, aproximadamente 50% da população tem menos de 25 anos. Na África, a idade da metade da população é ainda menor, 20 anos ou menos". "Na Líbia, dos 6,4 milhões de habitantes, 47,4% tem menos do que 25 anos. No Egito, dos 82,9 milhões, 52,3%".
Diz ele que "são esses jovens que andam com celulares pelas ruas e que utilizam a internet em espaços públicos (porque ela ainda é cara para a maioria) que percebeu que o mundo ao qual estavam confinados era muito diferente daquele que acessavam".
Concordo.
Embora ele se refira a taxas desemprego de 10, 14%, o fato é que a falta de liberdades, onde se misturam, em muitos casos, regime ditatorial com rigidez religiosa, corrupção e muita pobreza, é um ambiente explosivo para jovens que compõem a maioria da população dessas nações e que, conhecendo outra realidade pela internet - como afirma Rovai e a Veja desta semana, numa chamada em que sugere que as redes sociais distanciam esses jovens do fundamentalismo islamita - lutam contra a falta de perspectivas em seus respectivos países e, claro, por liberdade: política, moral, sexual e por aí vai.
Essas nações vivem seus "maios de 68", onde juntam a condição em si de bônus/janela demográfica (como Europa nos anos 60) com vontade de implodir uma política que lhes tolhe como indivíduos e, corretamente, o desenvolvimento de suas sociedades como um todo. Mas, o fazem 50 anos depois.
Diferentemente da América Latina, que vive janela demográfica com democracia, essas rebeliões juvenis no Oriente Médio e África terão que cumprir dois papéis ao mesmo tempo: construir democracias e promover o desenvolvimento econômico soberano, que dependerá de forte investimento nessa própria "massa crítica revolucionária", os jovens em questão.
Mas o caminho político não é tão simples e pode levar ao inverso, basta ver o que o ocorre com a Líbia, onde a sanha pelo petróleo consegue imprimir, via redes sociais, outros sentidos para o levante anti-Kadafi; e no que já começa a ser ensaiado em Angola, grande produtora, no centro africano, de petróleo.
Sem cuidado, essa juventude pode ser levada a uma condição futura expressa nos relatos dos jovens sindicalistas da AFL-CIO, apresentados para a Juventude da CUT, na segunda-feira, num intercâmbio internacional, pelo que parabenizo a nossa central pelo pioneirismo em ser escolhida pela irmão estadunidense: 24% dos jovens americanos não conseguem pagar as suas contas; o poder aquisitivo do jovem norte-americano é 30% maior quando está no sindicato, mas no total de sindicalizados, apenas 4,3% tem entre 16 a 24 anos; estão hoje em uma situação pior que as dos seus pais, lembrando que não há hoje perspectiva para novos empregos, planos de saúde, e outros direitos sociais e econômicos.
Esse foi rumo que a economia americana neoliberal deu aos seus próprios jovens e será, no mínimo, o mesmo a ser dado para os jovens árabes, caso suas revoluções sejam guiadas pelo caminho de uma nova dependência, tanto que Gladys Cisneros, membro da juventude da AFL-CIO, concluiu seu relato aos jovens cutistas: "ambos (árabes e estadunidenses) são jovens, sem empregos e oportunidades. Em todos esses países, a economia não consegue gerar empregos suficientes para absorver a mão de obra jovem".

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