quinta-feira, 26 de abril de 2012

Juventude, juventudes


As juventudes apresentam elementos comuns e de diferenciação. Atentar para esses aspectos pode ser crucial para discutir as políticas públicas voltadas para esse segmento e, talvez o principal, problematizar as especificidades do papel da instituição escolar no mundo atual
Diversidade das juventudes é fundamental para gerar política públicas amplas
Diversidade das juventudes é fundamental para gerar política públicas amplas
Foto: José Cruz/ABr
Discutir a juventude na contemporaneidade leva-nos a tomar duas precauções importantes: entender que a noção de juventude é uma construção social e cultural e, além disso, bastante diversificada; e compreender que a noção de juventude não pode ser definida isoladamente, mas a partir de suas múltiplas relações e contextos sociais. Nesse sentido, pensar a ideia de juventude é pensar sobre condições de gênero, raça, classe social, moradia e pertencimento religioso. E, o principal, contextualizá-la historicamente, como integrante de uma geração específica que se relaciona com outras gerações. Por isso, como já tem sido bastante reiterado pelos especialistas, não é possível falar no jovem atual, mas nos diferentes modos de vivenciar a juventude na contemporaneidade.

“A ‘juventude’ é apenas uma palavra”, afirma Bourdieu, ao abordar a noção de juventude. Para ele, as divisões entre as idades seriam arbitrárias: “Somos sempre o jovem ou o velho de alguém”. Sendo assim, os cortes, em classes de idade ou em gerações, teriam uma variação interna e seriam objeto de manipulação. Portanto, juventude e velhice não seriam dados, mas construções sociais oriundas da luta entre os jovens e os velhos. Dessa maneira, as relações entre idade biológica e social seriam muito complexas. Pode-se apreender, portanto, que tal noção configuraria um elemento que faz sentindo somente no contraste entre os mais novos e os mais velhos.

Entretanto, para outros autores estudiosos da juventude e de suas práticas, seria mais que uma palavra. Em texto cujo título já apresenta um contraponto a Bourdieu – “A juventude é mais que uma palavra” –, Mario Margulis e Marcelo Urresti propõem a superação de considerações sobre a juventude como mera categorização por idade, com características uniformes: “A condição histórico-cultural de juventude não se oferece de igual forma para todos os integrantes da categoria estatística jovem” (tradução  minha). Para eles, a discussão feita por Bourdieu leva à percepção da juventude como “mero signo”, como “uma construção cultural desgarrada de outras condições”. Assim, a noção, como definida por Bourdieu, é desvinculada de seus condicionantes históricos e materiais.
Os dois autores reforçam a necessidade de atentar para o modo como a condição de juventude manifesta-se de forma desigual conforme outros fatores, como classe social e/ou gênero. Não se constitui, portanto, um conceito unívoco. Contudo, ressaltam que assim como não se deve considerar apenas os critérios biológicos de idade para definir juventude, não se pode também levar em conta apenas os critérios sociais

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